Quando os dentes eram perfurados com pedras e cheios de alcatrão: isto era o que a odontologia era há 13.000 anos.

  • Joao Sousa Joao Sousa
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  • quarta-feira, abr. 14, 2021

    Viver no século XXI e não na pré-história tem muitas vantagens. E digo isto sem lendas negras ou idéias preconcebidas: é bem possível que o consenso historiográfico diga que o Neolítico não era tão ruim, que as pessoas trabalhavam menos, que a desigualdade quase não existia. OK, eu confio nisso. Mas todos esses argumentos vão por água abaixo assim que você entra na sala de espera de um dentista.

    Porque sim, visitar o dentista hoje pode ser o tema de pesadelos recorrentes, mas fazê-lo há 13.000 anos atrás foi, por todos os motivos, muito pior. Desde aquele momento é o primeiro enchimento que conhecemos.

    Dentes, dentes

    A versão tradicional coloca a origem da odontologia por volta de 300 a.C., quando os egípcios tiveram seus dentes perfurados para incorporar pedras preciosas. Entretanto, é mais antiga, e não apenas porque os fenícios e os etruscos faziam próteses odontológicas a partir de ouro e marfim.

    No final dos anos 90, em Riparo Fredian, um local na região montanhosa da Toscana, uma equipe de arqueólogos encontrou um conjunto de dentes de cerca de seis pessoas que viveram há cerca de 13.000 anos, no período Neolítico.

    Entre todos eles, dois incisivos provaram ser particularmente valiosos para examinar as práticas médicas e odontológicas da época. Como publicado há alguns anos na revista Physical Anthropology, os dentes mostraram sinais de terem sido manipulados com um instrumento afiado (provavelmente uma pedra) com a intenção de remover a cárie e ampliar o buraco.

    Posteriormente, os furos foram preenchidos com pedaços de betume, uma variedade natural de alcatrão que sabemos que era usado na época para impermeabilizar cestas ou utensílios. Em outras palavras, os dentes pareciam ter sido submetidos a um equivalente neolítico de um enchimento moderno, removendo as cavidades e preenchendo-as com um composto artificial.

    Muitas vezes, quando observamos como a medicina evoluiu, é inevitável ficarmos surpresos com o quão avançadas algumas técnicas e conhecimentos eram. Basta pensar nos Neandertais asturianos que (muitos anos antes deste dentista primitivo) já mastigavam casca de álamo, uma fonte natural de ácido salicílico (o princípio sedativo da aspirina) e Penicillium, um fungo com propriedades antibióticas.

    Imagem | Kevin Bation

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